sábado, 31 de julho de 2010

O Estatuto do Espectador ...

A "modernidade" das pessoas quem administram o esporte no país é impressionante. Papagaios, vivem repetindo as verdades absolutas d'além mar, aquelas que, atualmente são severamente questionadas, dada a diminuição de público nos estádios europeus. As lorotas de dez, quinze anos atrás são lançadas como inovação e/ou solução por aqui.


Fico nisso e ofereço um texto do Pessini e outro do Seo Cruz, ambos extraídos do CS, para reflexão:

E o torcedor sofre…

Por Seo Cruz, via Cruz de Savóia

Texto do grande irmão Adriano Pessini produzido para sua coluna de sábado para o Jornal Agora SP (e gentilmente compartilhado pelo autor com os amigos que por aqui passam).

Aproveito o bom humor de dois grandes amigos o @SeoCruz e o @craudio99, que durante esta semana travaram uma guerra de “ofensas” no Twitter, para exemplificar como esse novo Estatuto do Torcedor não adianta em nada na prática.

“Animal suíno e prole de uma mulher de vida fácil” ou “marsupial fétido” seriam alguns dos elogios ouvidos no clássico de amanhã, no Pacaembu, já que agora “xingamentos discriminatórios” estão proibidos nos estádios?

E, quer dizer que, se alguém fizer isso _ou algo bem pior_, e for de uma torcida organizada, quem vai pagar é a torcida? Muito bom, mas, na minha singela visão, é mais um item em que o Estado está tirando o corpo fora.
Seria algo como culpar um padre, um pastor ou um pai de santo pelo fato de um de seus seguidores cometer um crime.

Outro ótimo ponto: “é proibido promover tumulto, praticar ou incitar a violência num raio de até 5 km do estádio”. Beleza, então a galera do ABC e das áreas mais distantes do centro pode fazer o que quiser nos arredores de casa, pois só serão punidos se o fizerem perto do estádio?
Onde está o erro? Simples. Começa na visão do próprio ministro do Esporte, Orlando Silva, que diz que a torcida é um espetáculo à parte no futebol.

Pois saiba, meu caro ministro, que o torcedor é muito, mas muito mais do que isso: é quem move, quem dá a vida por um time e é a essência da maior paixão mundial: o futebol.
O Estatuto Macunaíma
Por Seo Cruz, via Cruz de Savóia

No Brasil, O Estado tem se tornado um especialista em tirar o fiofó da linha de tiro a cada vez que a solução para um problema passa longe do consenso. Quando isso acontece, e quando o apelo pela solução de um determinado problema é grande, devido à pressão da mídia e/ou da classe média, governos deste Brasilsão sem pai nem mãe “criam” um consenso necessário para se sanar um impasse através da imposição de novas leis, determinações federais ou estaduais que promovem a inibição de um comportamento coletivo.

Foi assim com a inútil Lei Antifumo, que não veio para nada – uma vez que fumantes, donos de estabelecimento e não-fumantes já se acomodavam em harmonia pelos recantos coletivos da cidade; é assim com inúmeros outros exemplos onde o ato de proibir revela antes uma vagabundagem do governante em dialogar e encontrar um caminho justo do que propriamente fazer justiça.

O que ninguém percebe, o que ninguém está percebendo, é que a cada canetada fascista destes vagabundos estamos perdendo um pouco das nossas liberdades individuais. Na internet, por exemplo, que é o nosso principal meio de interação com o mundo todo nos tempos de hoje, a tal da liberdade de ir e vir está a cada dia mais restrita. Tem gente propondo lei para literalmente restringir nosso acesso livre à web por mera incapacidade de regulamentar os processos todos que envolvem o mundo digital (ou por medo de para onde estes processos podem levar a vontade de uma sociedade).
Nos estádios não é diferente.

A Copa de 2014 está cada dia mais próxima e as autoridades de plantão, os aspones, os oportunistas e corruptos uniformizados de toda patente simplesmente não sabem o que fazer com seu próprio complexo de vira-latas – não conseguem imaginar como enquadrar a diversão culturalmente improvisada de seu povo nos padrões europeus exigidos pela máfia de Zurique. Então o que fazem? Nos proibem de tudo.

Começaram proibindo as bebidas alcoólicas – uma medida burra que só aumenta o ingresso de bebuns nas arquibancadas (o sujeito tem que beber todas antes de entrar) e hipócrita (porque tal veto cairá até 2014, quando uma das grandes marcas de cerveja do mundo será patrocinadora oficial da Copa); continuaram, discriminando o torcedor assíduo do bunda-mole que quer conforto, taxando “torcedores organizados” de marginais e coroando os oportunistas, aqueles que só apoiam o time quando chegam a uma decisão, como “torcedores comuns” – ou os que devem ser protegidos daqueles que realmente frequentam os embates de seu clube durante todo ano.

A última grande idéia genial desses capachos sedentos por euros e dólares de uma gente que não nos respeita é este estatuto do torcedor (sic). É uma lei que não serve para absolutamente nada e cria exageros e distorções no controle de segurança das massas, da manifestação das torcidas. Chega, este estatuto em particular, a beirar o perigoso limite da liberdade de expressão e do prórpio direito de ir e vir (olha ele de novo, agora no mundo real).
A maioria dos mestres de lingüística concorda na origem da expressão “para inglês ver”. Parece que data de 1831, quando os regentes tupiniquins tiveram que engulir exigências do Império Britânico e assinar uma lei que, todos sabiam, jamais seria cumprida: segundo ela, todos os escravos contrabandeados para o Brasil deveriam ser imediatamente alforriados, bem como seus traficantes deveriam ser severamente punidos.

Já naquela época, que não se iludam os humanitários de plantão, o motivo era GRANA. A Inglaterra e sua aquecida indústria temia não poder mais competir comercialmente, a médio prazo, com países que não precisassem pagar os custos de sua mão-de-obra.

Feijó, o regente, então, foi lá e assinou a tal da lei “pra inglês ver”. O padre liberal já sabia no século XIX, como sabemos hoje, que leis oportunistas, nesse Brasil-colônia, são feitas apenas para serem convertidas em suborno para aqueles que a criaram. Não é coisa para ser levada a sério, como este tal estatuto de pay per view.

É coisa oportunista, de ocasião, impedimento que passa depois de 2014, quando nos devolverem a emoção do Futebol – emoção que desde já foi sequestrada.

Pelo novo estatuto, qual a melhor roupa para ir ao futebol?

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