quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A crise existencial do Instituto Millenium

Por Altamiro Borges, via Blog do Miro

O jornalista Luis Nassif, sempre bem informado e com trânsito no meio empresarial, informou no final de julho que o Instituto Millenium, que agrega poderosas empresas e o que há de mais conservador na política brasileira, atravessa uma grave “crise de identidade”. Ela teria eclodido após a realização do seminário sobre “liberdade de expressão”, ocorrido em março passado, que foi protagonizado por famosos colunistas da mídia golpista e muitos artistas globais.

O evento teria explicitado a ligação do instituto com a oposição de direita. Entre os convidados, “Roberto Romano, Jabor, Demétrio Magnoli, Reinaldo Azevedo, Eurípedes Alcântara, Otávio Frias Filho e Roberto Civita. Só. Começa o seminário, a ultradireita fez a festa... Conclamaram à guerra, sem direito de resposta aos inimigos (adversários é termo brando)... Só faltou saírem em passeata com grandes bandeiras medievais, daquelas que a TFP gostava de desfraldar”.


“Saia justa com seus patrocinadores”

Mas a reação ao evento foi imediata, principalmente na blogosfera. “O mínimo que se falou do Millenium é que ele seria o novo IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), uma das organizações que conspirou em 1964. Explodiu uma crise entre os patrocinadores... Depois de botar fogo no terreiro, cada artista voltou para seu canto, deixando o Instituto Millenium numa enorme saia justa com seus patrocinadores e com uma enorme crise de identidade”, relata.

Diplomático, Nassif até tenta relativizar os intentos do sinistro instituto. “Bancado por grandes empresários, com um fundo gerido pelo Armínio Fraga, destinava-se a propagar as virtudes da livre iniciativa - ponto importante no debate nacional. Aí foram na conversa de uns espertos e decidiram montar o seminário”. Ao final, ele inclusive faz um alerta. “Espero que o Millenium recupere sua proposta original. E um pouquinho de pluralidade não lhe faria mal algum”.
Golpismo está no seu DNA

Discordo do amigo Nassif. Não acredito na reversão deste instituto, que já nasceu com o projeto de ser um centro do pensamento conservador e um organismo aglutinador do que há de mais reacionário no Brasil. O golpismo está no seu DNA. Criado em 2006, ele é presidido por Patrícia Andrade, filha do falecido jornalista Evandro Carlos de Andrade, um dos mentores da Central Globo de Jornalismo, ex-analista dos bancos Icatu e JPMorgan e uma das signatárias do risível “manifesto contra a ditadura esquerdista na mídia”, escrito pelo fascistóide Olavo de Carvalho.

O Millenium não tem nada de neutro ou plural. É controlado pelas corporações empresariais. Entre os mantenedores estão Jorge Gerdau, o barão da siderurgia, Sergio Foguel, da Odebrecht, Pedro Henrique Mariani, do Banco BBM, Salim Mattar, do grupo Localiza, e Marcos Amaro, da TAM. O gestor do seu fundo patrimonial é Armínio Fraga, o ex-presidente do Banco Central no reinado neoliberal de FHC. Os barões da mídia comandam a entidade. Entre os dez principais mantenedores estão João Roberto Marinho, das Organizações Globo, e Roberto Civita, do Abril.
Sucessão presidencial e pragmatismo

A “crise de identidade” do Instituto Millenium reflete as dificuldades da oposição de direita na sucessão presidencial. No seminário de março, o objetivo maior foi unificar o discurso da mídia hegemônica contra a candidatura Dilma Rousseff. Mas, até agora, a mídia demotucana não está conseguindo abalar a popularidade do presidente Lula nem impedir a sua transferência de votos. Pragmáticos, alguns empresários já temem o futuro e repensam seus “patrocínios”. Talvez seja melhor para os seus negócios se afastarem de um instituto abertamente golpista e de oposição.

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