sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Os separatistas de São Paulo estão a mil: são perigosos, detestam os nordestinos!

Por Rodrigo Vianna, via Escrevinhador

Sou neto de mineiro pelo lado de pai. Do lado materno, parte da familia vem do interior paulista. Mas meu avô materno era filho de imigrantes italianos. Uma bela salada.

O bisavô Agostinho (eu o conheci, com sua bengala de madeira, e o bom humor de quem  viveu até os 96 anos) veio da Itália ao Brasil, pra trabalhar na construção no fim do século XIX. Erguia casas em São Paulo, como pequeno empreiteiro. Ele mesmo botava a mão na massa, conta minha mãe. Ganhou o suficente para criar uma batelada de filhos (acho que eram 9 ou 10), mas só meu avô Alberto conseguiu fazer faculdade.

O perfil é parecido com o de tantos pedreiros nordestinos que hoje trabalham “por conta” em São Paulo. Como o Genivaldo, que veio do Piauí e vive arrumando encanamento e telha quebrada lá em casa. Sem o Genivaldo, minha casa paulistana já tinha caído!

Os italianos, no começo do século XX, eram discriminados em São Paulo. E não vou aqui falar mais porque todo mundo já cansou de ver aquelas novelas da Globo (algumas, muito bonitas) com a italianada sofrida chegando ao Brasil.

Só digo que meu avô (filho do italiano Agostinho) uma vez me explicou porque batizou uma das filhas de Rosane (e não Rosana, como pretendia): “é que um amigo disse que ia ficar muito italianado; Rosana parecia coisa de carcamano, aí eu cheguei no cartório e botei Rosane, mais delicado”. A minha querida tia Rosane não tem mesmo cara de Rosana!!

Depois daquela conversa, entendi como foi difícil para os italianos serem aceitos pela “sociedade paulista”.  

O Genivaldo, hoje, é o bisavô Agostinho de um século atrás. Tenho perfeita compreensão disso. E me espanto quando leio o parágrafo que se segue, retirado de uma entrevista do “Portal Terra” com um sujeito que representa um desses movimentos de valorização da “cultura paulista”:

Existe um movimento separatista, que é o MRSP, Movimento República de São Paulo, mas a gente não faz parte. A gente apoia o MRSP, mas não apoia a ideia de separar São Paulo do Brasil. Na passeata de 9 de julho, conversamos com eles. É um movimento organizado. São centenas de jovens em todo o Estado. Tem sede em Ribeirão Preto, Sorocaba, Campinas, Santos, São José dos Campos e na cidade de São Paulo. Geralmente, são de famílias italianas. Também são grupos de universitários.”

Os caras “são de famílias italianas”. E se sentem ameçados pelos nordestinos – como se pode ler em outro trecho da entrevista (que é um documento sobre a pequenez humana). Deviam aprender que os avós deles sofreram o preconceito que hoje muitas famílias nordestinas sofrem em São Paulo.

Na cabeça dessa turma de “jovens universitários”, o mais grave nem é o pensamento “separatista”. Mas a mentalidade fascista de quem despreza e teme outras culturas. É o”ovo da serpente”, como bem disse o Brizola Neto em seu blog – onde eu li o comentário sobre esses estranhos separatistas de São Paulo.

Como paulisa, entristeço-me. Como bisneto de italianos, eu me envergonho. Como pode? Tão jovens, tão idiotas.

Nem devia me espantar. Desde garoto, ouço cada coisa estranha dos amigos da classe média paulistana.

Essa cidade foi palco da Semana de Arte Moderna, em 1922. Acolheu operários anarquistas e comunistas que foram responsáveis pela organização dos trabalhadores no começo do século passado. Nos anos 70/80, foi em São Paulo que nasceu o PT. A CUT, em boa parte, deveu-se a movimentos surgidos em São Paulo. Os festivais da Record e parte da Tropicália rolaram aqui. São fruto de uma cultura da generosidade.

Mas essa ambém é a terra do “orgulho bandeirante”, do “rouba mas faz” ademarista, do cinismo malufista. É a terra dos separatistas com tintura fascista. Muitos nem sabem o que dizem. Mas, como não sou Jesus, não dá pra dizer: “perdoai-os, ó pai”.

Perdoai-os, não! Olho, neles. São um perigo para o Brasil. Um perigo para a democracia.

Nota Re-patriated: O conservadorismo está voltando para ficar. Com ele as mais abjetas manifestações reacionárias. Quando me dei conta de que a Europa marcha a passos largos para a direita e que, o respeito humano desaparece nesse processo, arrumei minhas malas.

A busca pelos valores tradicionais e, via de consequência, carregados de preconceitos, parece ser a tábua de salvação dos nativos do velho mundo, esperando por um estado que os proteja da dura realidade que estão vivendo e os salve da crise e do desemprego. Culpam os não nativos para acobertar a própria incompetência e em São Paulo não poderia ser diferente.

Considerando o DNA local, de quem sempre se vangloriou de ser a “locomotiva da nação” é duro para essa juventude “bem instruída” perceber que sua terra não progride como nos tempos de seus pais e seus avós. Pelo contrário, anda para trás. Preconceituosos, são como bem lembrou meu amigo Fábio Tatú lançando uma fala de Cazuza: “caboclos que  se acham ingleses”.

E a nova geração paulista estufa o peito cheio de orgulho, joga a sujeira para baixo do tapete, come mortadela, arrota caviar e mantém a situação política como está. Quem sabe precisem completar vinte anos de tucanalha no poder para aprender algo.

Graças a esse orgulho “quatrocentão” e ao ranço da aristrocacia que um dia viveu aqui, abundam o preconceito e até o vírus separatista. O tétrico resultado é que São Paulo é uma ilha estagnada em um país que cresce como nunca d”antes.


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