sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Temos todos um novo papel a cumprir

Por Eduardo Goldenberg, via Buteco do Edu

Sacramentado o resultado das urnas, eleita Dilma Rousseff para governar o Brasil pelos próximos quatro anos, derrotado o modelo neo-tucano-liberal, vitoriosa a verdade sobre a mentira e a calúnia, creio que temos todos uma certeza solidificada: a grande rede teve papel fundamental na vitória. Não se trata de supervalorizar nossa atuação (e refiro-me aos chamados "blogueiros sujos" e aos usuários do twitter que, incansavelmente, trocavam o dia pela noite em prol do bloqueio da onda de ódio e de inverdades propalada pelos oponentes). Mas simplesmente de afirmar o óbvio: cada blogueiro e cada blogueira teve papel importante na campanha, atuando, inclusive, como parte de uma espécie de conselho informal a orientar o comando da dita campanha eletrônica. Os responsáveis pela campanha do PT na grande rede dormiram muito no ponto, comeram muita mosca, e a militância foi fundamental para que as coisas tomassem o rumo certo na hora certa. Não por acaso sentimo-nos todos homenageados e representados no domingo quando o ator José de Abreu chorava no palco, atrás de Dilma Rousseff, comemorando a vitória depois de semanas estressantes, desgastantes e de muito trabalho. Não era apenas o Zé de Abreu que estava ali (o MarcosOvos, o ZéBigorna, alguns de seus condinomes no twitter), éramos todos nós.

E terminada a campanha temos de ter outra certeza: chegou a fim a campanha eleitoral e com ele incia-se outra tão grave e tão urgente quanto... Uma campanha para o pleno restabelecimento da democracia lato sensu. É preciso fazer baixar a poeira da campanha e suas imposições posturais, e dou exemplos: sabemos todos que candidato que não vai à Igreja fazer pose de cristão não se elege, saibamos disso; candidato que defende a discriminalização do aborto de forma incisiva não se elege, saibamos disso; candidato que isso, candidato que aquilo... enfim... há uma fórmula a ser seguida e que é preciso ser diluída após as eleições. O Brasil não precisa de uma boa-moça no comando, o Brasil precisa de uma pessoa firme, comprometida com o bem-estar dos brasileiros e estamos, nesse ponto, em boas mãos. Mas é preciso, em paralelo, exatamente como fizemos durante a campanha, comprar as brigas certas para evitar o mal maior - e passo a explicar.

Na terça-feira passada conversei com meu mano Luiz Antonio Simas. Brasileiro máximo, eleitor de Dilma Rousseff, meu irmão fechou os olhos (com extrema sabedoria) para os salamaleques marqueteiros que impuseram uma postura cristã na candidata eleita. Simas é preto, é africano, cultua os orixás, os encantados, e ele me dizia, comovido, que estava determinado a disparar uma campanha para defender aquilo que sempre é (e foi, é claro) omitido em época de campanha eleitoral: o candomblé, a umbanda, a encantaria, o Brasil mais profundo e mais caboclo, mais mestiço e mais bonito. Ou alguém acha que um candidato, posando ao lado de uma mãe-de-santo, dentro de um terreiro, se elege para algum cargo público?! Mas é preciso fazer correr o Brasil que há uma legião imensa de gente que se comove, mais por poesia do que por fé (como nos disse, certa feita, o próprio Simas), com esses troços tão presentes e arraigados na cultura brasileira. E por aí a fila tem que andar.

Tenho lido, pela grande rede, que todos têm esse mesmo desejo: o de unir forças, cada um com a sua fatia do bolo, em prol da disseminação da democracia, em prol da verdade, em prol da revisão da História, em prol de mais informação para mais gente a fim de que enterremos, aos poucos, a pretensão de quem pretende o poder pelo viés da mentira, do engodo e do sufocamento das (ditas) minorias.

O que me toca - eis o que quero lhes dizer desde o início - é o seguinte: tenho verdadeira ojeriza ao mau gosto. Mais que isso, preocupa-me demais um movimento que começa a pôr as mangas de fora e que tem nascedouro - eis o que é muito impressionante e preocupante! - numa juventude que está, aí, em sua grande maioria, na casa dos 15 aos 25 anos. Uma juventude que une-se, em pensamento e em ação, a uma parcela mais velha da população brasileira e que denota um vácuo gigantesco a exigir pulso firme do Ministério Público e de nós. O Ministério Público valendo-se de suas prerrogativas para exigir a punição dos excessos e nós exercendo o poder de fazer ecoar as nossas vozes capazes de tornarem públicas as barbaridades que estão correndo por aí. Vamos aos fatos.

O jornalista Paulo Henrique Amorim publicou, ontem, aqui, uma história arrepiante: estudantes paulistas lançaram mão do movimento SÃO PAULO (SÓ) PARA PAULISTAS. Pregam, os fascistas, o extermínio e a expulsão de imigrantes (nordestinos precipuamente) de São Paulo. Algo como fez a estudante de Direito, Mayara Petruso, que sugeriu aos paulistas o extermínio de nordestinos. Discordo frontalmente de um sociólogo da USP que diz que a jovem de idéias lastimáveis não pode ser transformada em bode expiatório, vejam aqui. Penso que pode e penso que deve. Somente com punições exemplares daremos um basta em movimentos como este. E tem mais...

Um sujeito que assina Mauro Freire, no twitter, disse o que disse como prova a imagem abaixo...       


O quê esperar disso? Quantas provas temos de que movimentos calcados no ódio se transformaram em movimentos que geraram as piores páginas da história da humanidade? O quê esperar de uma geração que desconhece por completo o que foi a ditadura militar no Brasil? O que esperar de uma pessoa (que não merece sequer ser chamado de "gente") que deseja o que deseja esse tal de Mauro Freire? O mesmo - guardadas as devidas proporções - que desejou Martistela Bairros Schmidt - vejam aqui. O mesmo que fez o Deputado Federal reeleito - por eleitores da mesma estirpe - Jair Bolsonaro, que continua por aí, solto, mesmo depois de dizer "o grande erro foi torturar e não matar" - vejam aqui.


Nada disso pode ficar impune, e somos todos capazes de exigir a punição dessa escória.

Quando Dilma Rousseff, ex-guerrilheira, subir a rampa do Planalto e for reverenciada pelos chefes das Forças Armadas, as mesmas que protagonizaram prisões e torturas - que a vitimaram - no Brasil, estaremos - é fato - virando uma importante página de nossa História. E começando a escrever outra.

Nós, agentes da grande rede, temos de reescrevê-la também. Eu - isso eu garanto a vocês - estou fazendo a minha parte.

Até.

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