domingo, 19 de setembro de 2010

É guerra: Arrancada Heróica de 1942

Por Miro Moraes, via Palestrinos

É com imenso orgulho e emoção, que tentarei narrar uma das mais belas e emocionantes páginas da saga alviverde ao longo de sua gloriosa existência. Trata-se do título de Campeão Paulista de 1942. Mas, talvez, tão ou mais importante que esta conquista, tenha sido o fato de ser esta a primeira partida em que nosso amado time fez, já com o novo nome: SOCIEDADE ESPORTIVA PALMEIRAS.

A data, de tão significativa partida, 20 de Setembro de 1942, ficou instituída como o Dia do PALMEIRAS. Sobre a frase acima, que dá título à coluna, todos entenderão ao final da mesma, porque a escolhi.

Antes de chegarmos ao ano em questão, retrocedemos ao ano de 1939. Penso estar longe o dia em que a humanidade aprenderá a viver em paz, onde povos e nações possam conviver em harmonia. Mesmo após a nefasta Primeira Grande Guerra (1914 a 1918), infelizmente, o mundo viu-se envolvido novamente, em pouco mais de 20 anos, em um outro conflito bélico: A Segunda Guerra Mundial! Ao final desta perto de 50 milhões de pessoas perderiam suas vidas, entre o ano de 1939 a 1945.  O Brasil, de início, relutou a tomar partido no conflito mundial. Mas acabou por se posicionar a favor dos países beligerantes contra, o chamado, eixo do mal: Alemanha, Itália e Japão.

Os 3 países do eixo eram vistos como inimigos, e conseqüentemente, todos que descendiam destes, começaram sofrer toda sorte de perseguição e discriminação. Principalmente as grandes colônias italianas, que aqui em São Paulo e também no interior, predominavam. Tantos italianos e alemães eram acusados ou insultados de traidores “Quinta Coluna”. Termo muito utilizado para designar o serviço de espionagem espalhado pelo mundo, pela a Alemanha nazista.

Mas infelizmente, as ofensas e perseguições, deixaram de ser somente no âmbito pessoal, e começaram a direcionar-se sobre as instituições que carregavam conotações com os países de origem. Exemplo: O PALESTRA ITÁLIA, o Hespanha (Atual Jabaquara), Germânia (Atual Pinheiros), Palestra Itália-MG (atual Cruzeiro) etc. começaram sofrer perseguições sectárias por parte da população.

Mas, eis que entra em cena um personagem. De forma oportunista e covarde. Uma instituição de futebol, aproveitando desta agitação xenófoba e sectária frente à imensa colônia italiana, começou a engendrar um plano maquiavélico. Mais precisamente, os simpatizantes do São Paulo F. C., que tendo menos de 7 anos de vida, e praticamente nenhum patrimônio, tentava apoderar-se de nossa amada casa – o estádio Palestra Itália.

Desde que as perseguições intensificaram-se, o então Presidente da República Getulio Vargas, temendo que os distúrbios aumentassem, fez baixar um Decreto-Lei obrigando todos os clubes com denominação estrangeira, que trocassem de nome, ou correria o risco de perderem seus patrimônios. Aproveitando-se disto, o São Paulo F.C., volta seus cobiçosos olhos para aquela bela praça esportiva: o estádio Palestra Itália, assim como o belo clube já montado por aqueles abnegados ítalo-brasileiros.

Conta-se que no auge das perseguições, os simpatizantes do São Paulo, até tentaram uma invasão, para tomarem de vez o nosso amado clube. Mas aqueles abnegados palestrinos lutariam até a morte, mas não iriam entregar o clube que tanto amavam e trabalharam para construir. Dizem que os palestrinos chegaram a colocar em volta do clube todo, tambores com gasolina, pois, em último caso, era preferível atear fogo em todo o clube, a vê-lo sendo invadido, e colocadas ali outras, que não fossem as nossas amadas cores: VERDES e BRANCAS.

Para tentar aplacar um pouco a ira sobre o clube, em março de 1942, decidira-se pela a mudança de nome de PALESTRA ITÁLIA, para PALESTRA de São Paulo. Nome este, que duraria apenas 6 meses, pois apesar de o nome Palestra ser de origem grega, nada tendo a ver com a Itália, as perseguições, infelizmente continuaram.

Na segunda-feira, dia 14 de Setembro, seria o prazo final para que se escolhesse um novo nome, ou correríamos o risco de perdemos tudo aquilo que havíamos conquistado com tanta luta e abnegação desde 1914. Chega-se, portanto, após tanta perseguição, o dia em que se definiria o novo nome.

Certamente amigo palmeirense aquela segunda-feira, amanhecera triste para toda a colônia italiana, pois o seu “filho amado” teria que trocar o seu nome, para continuar existindo. O fato que narrarei a seguir, eu tive o orgulho e a felicidade de ouvir, de uma das maiores autoridades da história palmeirense que já existiu. Trata-se do, infelizmente já falecido, Sr. Walter Pellegrini. Uma verdadeira história viva palmeirense! Sabia tudo, sobre o nosso amado clube!

Naquele dia, do ano de 1942, ele, então um jovem palestrino, teve a oportunidade de ser testemunha ocular da reunião, que iria decidir o destino de nosso querido PALESTRANa ausência do então presidente Ítalo Adami e do 1º vice, o Sr Hygino Pellegrini (pai do Sr.Walter), presidiram a histórica reunião os Srs. Leonardo Fernando Lotufo (2º vice) e Capitão Adalberto Mendes (3º vice). Coube a eles e aos presentes, a decisão pela a escolha do novo nome de nosso amado clube.

Após as considerações iniciais, nada havia sido decidido ainda, até que de repente, telefone que toca. O Diretor de Esportes de São Paulo, que em nome das entidades superiores, exigia, mais uma vez, a mudança do nome. O Sr. Lotufo até tentou argumentar, mas não conseguiu obter êxito, transfere a ligação para o Sr. Adalberto Mendes. Este infelizmente, também nada conseguindo, prossegue a reunião.

Depois de acaloradas discussões, alguns nomes foram colocados em pauta, como por exemplo: Brasil, Piratininga, e até mesmo Paulista. Pensou-se nesses dois últimos, pela razão de os mesmos iniciarem com a letra P. Desejava-se alterar o mínimo possível o nosso querido escudo. A camisa alvi-esmeraldina apresentava um desenho com um circulo, onde apareciam entrelaçadas, as letras P e I (Embora, a esquadra esmeraldina, já estar a algum tempo atuando com um escudo em sua camisa, onde aparece somente a letra P dentro de um circulo branco). Mas os dois primeiros não foram aceitos, e o terceiro, tão pouco, pois afirmaram já possuir em Jundiaí, um clube com esse nome. 

O tempo  que passava e o  prazo estava se esgotando, deixando  todos  apreensivos.  Sugestões 
diversas, até que o Sr. Mário Minervino sugeriu o nome de PALMEIRAS. Talvez lembrando do extinto AA das PALMEIRAS, que sempre fora um adversário leal do querido PALESTRA ITÁLIA.

Portanto, todos os presentes concordaram com o nome sugerido.  Mas tinha um pequeno problema: Havia a necessidade da autorização por escrito, de pelo menos uma pessoa ou antigo dirigente, que ainda respondesse pelo clube. Não seria tarefa fácil, haja vista, que o clube no qual fora fundado no ano de 1902, com a iminência da profissionalização do futebol acabou extinto no final da década de 20. 

Mas, acabaram localizando um dos membros, e tarde da noite, foram bater a porta, para que este pudesse assinar o documento de autorização, para que o nome PALMEIRAS fosse utilizado. Para surpresa de todos, o velho dirigente, não só assinou o documento, como afirmou ser uma honra, em saber que o nome de seu querido e extinto clube, se perpetuaria, através do antigo PALESTRA ITÁLIA. Documento assinado retornam a reunião, para referendar o novo nome. 

Aqueles obstinados palestrinos, após algumas deliberações, dão pôr encerrada aquela histórica reunião. Mesmo que com os seus corações feridos, aqueles italianos estavam felizes, pois, o clube, ou seu amado “filho”, continuaria a sua vitoriosa jornada, mesmo que com uma nova denominação. Nascia então: a SOCIEDADE ESPORTIVA PALMEIRAS.

Mesmo com todas as perseguições e injustiças praticadas ao velho PALESTRA ITÁLIA e a sua gente, aqueles “oportunistas”, que usaram até mesmo o pretexto de uma Guerra Mundial para tentarem obter êxito ao seu maquiavélico plano, somente o nome conseguiram acabar. Mas nunca apagarão de nossa mente, nossa alma e de nosso coração verde e branco a antiga denominação. O nome PALESTRA ITÁLIA eternizado está, nos corações da imensa e apaixonada NAÇÃO ALVIVERDE.

Caro amigo independentemente dos problemas políticos sofridos pelo o nosso glorioso PALESTRA ITALIA no referido ano, havia também um campeonato em disputa, e claro, havia o desejo da gente palestrina de conquistá-lo.  Um ferrenho adversário, (ou inimigo?) brigava conosco pelo título paulista. Sim amigos, eles mesmos! O São Paulo F.C. O regulamento do campeonato Paulista de 1942 colocava frente a frente um total de 11 equipes, onde as mesmas jogavam em turno e returno, com pontos corridos. E após 18 rodadas, restando, portanto 2 para o término do campeonato, a campanha apontavam 2 equipes brigando diretamente pelo título: Em primeiro o nosso glorioso PALESTRA, com a seguinte campanha: 18 jogos, 16 vitórias, 2 empates, 61 gols marcados e apenas 15 sofridos, saldo de 46 gols, somando 34 pontose o São Paulo F.C. em segundo com: 18 jogos, 15 vitórias, 2 empates e 1 derrota, 76 gols marcados, 24 gols sofridos, saldo de 52, somando 32 pontos ganhos.

O destino não poderia ter sido tão generoso com a nação palestrina. Após uma conturbada semana em que tivemos a mudança de nome, justamente por fortes pressões da gente são-paulina, a penúltima rodada, do referido campeonato, a ser realizada naquele domingo, dia 20 de Setembro do ano de 1942, colocava frente a frente, brigando pelo título paulista de 42, PALESTRA x São Paulo F.C. Há um ditado que diz: “A vingança é como um pranto quente, se esperar esfriar, melhor será saboreado”. Mas aqueles injustiçadospalestrinos iriam saborear está “vingança”, quente ou fria. Portanto, não via a hora daquele jogo, do dia 20 de Setembro (domingo), chegar para entrarem em campo, e não só vencerem, mas darem uma lição naqueles que tanto os perseguiram. 

Chega-se finalmente o grande dia, o clima em toda a cidade de São Paulo não poderia ser diferente Todas as atenções estavam voltadas para o estádio do Pacaembu, que recebera um enorme público. Ao PALESTRA uma vitória garantia-lhe por antecipação o título Paulista de 42. E também toda a expectativa que acabou envolvendo as torcidas dos dois protagonistas: PALESTRA e São Paulo F.C. Sejam no campo esportivo ou político.

Para “apimentar” ainda mais a partida, fora colocado em disputa o “Troféu Campeoníssimo” (instituída pelo nosso adversário) entre o “trio de ferro” (PALESTRA, Corinthians e São Paulo) que com uma só conquista, ficaria de posse definitiva da equipe que fosse campeã. O referido troféu era uma enorme escultura em bronze em tamanho natural, retratando um jogador de futebol. Hoje, para a nossa alegria, ornamenta a nossa riquíssima sala das conquistas alviverdes. Chegou-se a pensar que aquela escultura que ali está, referia-se a algum atleta alviverde, mas é fruto de nossa laboriosa conquista de 42.

Aqueles “oportunistas e covardes”, ainda não se contentando em ver o PALESTRA, ter sido obrigado a mudar o seu nome, tentaram armar um clima totalmente hostil. A esquadra palestrina, assim que adentrasse o gramado do estádio Municipal do Pacaembu, naquela histórica tarde, seria recebida com uma estrondosa vaia, jamais endereçada a uma equipe de futebol no Brasil.

Sabendo do ardil são-paulino, os palestrinos tiveram a seguinte idéia: O oficial do exército brasileiro o Capitão Adalberto Mendes (3º vice-presidente), adentraria ao gramado juntamente com os jogadores alviverdes, ostentando uma enorme bandeira brasileira. Obs: A imagem de nosso glorioso PALESTRA-PALMEIRAS surgindo ao gramado com a bandeira nacional e o oficial do exército ficou perpetuado em pinturas, gravuras, fotos como: Arrancada Heróica... de 1942!    


Como diz a introdução de nosso amado hino: “Quando surge o Alviverde imponente...” e adentra ao gramado do Pacaembu, todo o estádio silencia-se por alguns instantes. Ao invés de hostilidades e vaias, foram nossos atletas esmeraldinos, recepcionados e aplaudidos de pé, tanto pela a gente palestrina, como pelos contrariados são-paulinos. Pois, todos que ali estavam, perceberam, que tantos aqueles atletas alviverdes, como o clube que representavam, eram tão brasileiros, quanto a todos que ali se encontravam. Aqueles entusiastas italianos, assim como amavam a sua antiga Pátria, também, nutriam por aquela nova terra que os acolheu, um enorme carinho. 

Mas ao iniciar a partida, aqueles jovens palestrinos em campo, não havia esquecido, dos que os perseguiram e o obrigaram a trocar o nome de seu amado “filho”. Os atletas alviverdes disputavam cada bola e defendiam a meta palestrina, como se fosse a própria vida.
 Não demorou muito, e abrimos o placar aos 20 minutos de jogo, através do jogador Cláudio; 3 minutos depois, Waldemar de Brito, empata a partida 1 x 1. Partida nervosa, muito disputada, mas aos 43 minutos da primeira etapa, o PALESTRA, volta a ficar a frente do placar, através de Del Nero. O primeiro tempo termina 2 x 1 para a equipe palestrina.

Inicia-se o segundo tempo, que prometeria fortes emoções aos presentes no Pacaembu, pois a vitória garantia o título de Campeão Paulista ao PALESTRA ITÁLIA, e a equipe são-paulina, só a vitória interessava. Mas para a alegria da imensa massa palestrina, o glorioso alviverde, amplia o placar para 3 x 1, aos 14 minutos da etapa complementar, através do jogador Echevarrieta.

Os jogadores são-paulinos sentiam que nada conseguiram abalar o ânimo daqueles palestrinos. Então começaram a armar uma “farsa” naquela tarde no Pacaembu. Aos 19 minutos do segundo tempo, o árbitro Jaime Janeiro, expulsou de campo o atleta são-paulino Virgílio, após entrada desleal em Og Moreira e assinalou um pênalti a favor do PALMEIRAS.

Os jogadores tricolores recusaram-se a dar prosseguimento a partida, e após se reunirem no meio campo, decidiram sentar-se ao gramado, impedindo com isso a cobrança de pênalti e o prosseguimento da partida. Ou seja, fugiram da possibilidade de uma goleada iminente, pois sabiam, que se com 11 contra 11 as coisas estavam difíceis frente à equipe esmeraldina, tamanha era a disposição que os atletas alviverdes disputavam aquela partida, o que dirá com um atleta a menos. 

Para a irritação de todos ali presentes, sejam atletas ou torcedores palestrinos, o São Paulo, resolveu “fugir” de campo, para que a vergonha não fosse ainda maior. O árbitro Jaime Janeiro aguarda o tempo regulamentar e dá a partida por encerrada. Para a alegria da imensa coletividade palestrina-palmeirense, seja presente no estádio, em toda a cidade de São Paulo, ou em qualquer lugar em que houvesse um torcedor palestrino, o glorioso, sofrido, perseguido, injustiçado, mas acima de tudo, AMADO PALESTRA ITÁLIA, sagrava-se CAMPEÃO PAULISTA DE 1942. Melhor ainda, que fora sobre aqueles que mais nos perseguiram naqueles idos de 1942.

“Morre  O PALESTRA LÍDER, e  nasce O PALMEIRAS CAMPEÃO ! ”


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