quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O ato contra o golpismo midiático e em defesa da democracia: descontruindo Eugênio Bucci

Logo cedo, fui alertado pelo intrépido professor Tibúrcio, @marcelotas,via Twitter sobre o que ele considera Texto precioso de Eugênio Bucci sobre ira de Lula contra imprensa. Leitura indispensável para petistas e ñ petistas”. Tratava-se do artigo Por um pingo de serenidade, no Estadão de hoje.

Assim, exercendo meu sagrado e democrático direito de não concordar com a opinião do missivista, passo a descontruir sua teoria. Para melhor entendimento, o texto de Bucci está em verde claro e minha resposta em branco:

Por iniciativa pessoal do presidente da República, a imprensa vai se convertendo em ré nesta campanha eleitoral. Nos palanques, ele vem investindo agressivamente contra ela. Diz que vai derrotá-la nas eleições. Lula grita, gesticula, fala com muita virulência. Por que será? É difícil de entender.

Nem tanto. Basta reler a declaração de Maria Judith Brito, presidente da ANJ: “esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada.

Ele sairá consagrado de seus dois mandatos. A aprovação popular que o eleva às alturas é um feito sem precedentes. O clima no País é de otimismo. Os indicadores econômicos, em sua maioria, atestam expansão, crescimento, solidez. Sua candidata ao Planalto lidera as pesquisas com imensa folga. Por que, então, todo esse ressentimento?

Uma ministra da Casa Civil acaba de sair da Pasta porque reportagens revelaram irregularidades graves em torno dela. As notícias que a derrubaram eram mentirosas?

Que me conste, ninguém foi condenado ou absolvido até o momento, então seria leviano afirmar que as acusações são falsas ou verdadeiras, mesmo com inúmeros fatores que desmentem as acusações ou pela falta de envergadura moral do denunciante.

Se não eram, por que a demissão (dela e de outros)?

Resta claro que a ministra Erenice e seus assessores se afastaram para evitar maiores danos ao governo e a campanha de Dilma Roussef.

Sabendo que a impren$inha iria martelar a acusação oca e criar factóides diariamente para alimentar o monstro criado, nada mais lógico. A eleição está muito próxima e seria impossível provar a inocência das pessoas acusadas nesse espaço de tempo.

Agora: se a demissão procede, por que tanta raiva?

A demissão não procede absolutamente nada. Isso não é verdade.

A tal “raiva”, provavelmente, vem da forma como foi apresentada, inclusive com documento falso e do caráter eleitoreiro das denúncias.

É compreensível, isto sim, que as autoridades guardem mágoas do noticiário. Quem já exerceu cargo público, ainda que de projeção modesta, sabe que a leitura diária dos jornais é uma roleta-russa macabra: de repente, vem lá uma bordoada envolvendo o nome do sujeito em maracutaias das quais ele jamais ouvira falar. Dar de cara com esse tipo de aleivosia é das piores experiências que existem
(para quem tem vergonha na cara, vale lembrar).
Isso é algum tipo de insinuação?
Além de despreparo técnico, que leva as reportagens a confundirem deselegância com ilicitude, assim como confundem mandado com mandato, há também o despreparo humano, emocional, o desrespeito aos semelhantes, o preconceito mais deslavado. Tudo isso é lamentável.
Sem sombra de dúvida, o parágrafo está cheio de razão. A qualidade dos textos, o preconceito implícito e o comportamento irresponsável de grande parte dos denuciantes é lamentável.
Mas tudo isso se refere à dor da pessoa física. O estadista, por dever de ofício, não pode permitir que sua dor pessoal conduza suas atitudes como chefe de Estado. Simplesmente não pode.
Tão lamentável quanto a forma das acusações é relativisar a conduta. Afirmar que um chefe de estado tem por obrigação aceitar esse tipo de comportamento leviano é má fé.
Lula sabe disso. Ele sabe disso muito mais do que todos nós.
Aqui, o articulista além de impor sua opinião ao presidente tenta vender a idéia de que Lula concorda com ela, o que é improvável.
E, também por isso, é difícil aceitar e entender a brutalidade dos seus ataques aos jornalistas. Mas, se nos esforçarmos, podemos encontrar uma linha de explicação.
Brutalidade? Isso é relativo. Quando há exagero por parte da impren$inha o missivista chama de “desrespeito”, se a resposta é proporcional vira “brutalidade”?
Ela começa pela necessidade de blindar a candidatura de Dilma Rousseff contra reportagens que possam minar o voto de confiança que ela vem recebendo nas pesquisas.
Prefiro acreditar que o presidente está aproveitando a campanha como uma grande oportunidade para marcar sua posição quanto ao comportamento da mídia tradicional. Dar conotação eleitoral a isso é desonesto.
Para isso, Lula caracteriza a imprensa como "partidos de oposição". Ele iguala o discurso jornalístico ao discurso da oposição e, na sequência, conclama os eleitores a "derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partidos políticos".
Se a própria presidente da ANJ afirmou o viés oposicionista da imprensa, não existe razão para discutir isso e Bucci apela, tentando passar a paternidade da idéia para Lula.
Derrotar a velha mídia que descaradamente assumiu a pauta da campanha oposicionista é, evidentemente, um dos objetivos de quem está participando de comícios. Onde está o erro de Lula?
Eis a fórmula da blindagem necessária. Portanto, o movimento teatral de Lula é estritamente racional, calculado. E faz sentido.
Movimento teatral? Opinião de professor da ECA?
O lastro eleitoral de Dilma vem de Lula. Se o mesmo Lula amaldiçoa os que a criticam, desqualificando-os um a um, pode, além de lastreá-la, vaciná-la contra as críticas. Esse é o sentido eleitoral do discurso do presidente.
O presidente não está “amaldiçoando” quem critica Dilma e sim quem faz jornalismo raso, publica mentiras e distorce informações, sejam elas contra a candidata ou contra o governo. Mais uma vez o sentido eleitoral vem do texto e não de Lula.
A logística é bem simples. Primeiro, ele afirma que certos "jornais e revistas" não são imprensa, mas "partidos de oposição". Assim, joga-os no descrédito.
Seguindo a lógica do articulista, a própria impren$inha se jogou no descrédito ao se declarar oposição. Devo confessar que concordo plenamente com isso!
Se são partidários, merecem a mesma confiança que os partidos da oposição
Confiança? que coisa louca. Quem ganha ou perde confiança é a imprensa com sua conduta.
(embora o governo demita autoridades cujas condutas foram reveladas suspeitas por esses mesmos jornais e revistas, ou seja, na prática, o governo lhes dá crédito, mas no discurso tenta desmoralizá-las).
Mente Bucci. Que eu saiba, não existiram demissões. As pessoas acusadas se afastaram, foram atos voluntários.
Em seguida, Lula cuida de se afirmar democrata: "A liberdade de imprensa é uma coisa sagrada." Portanto, ninguém pode acusá-lo de autoritário.
Insinuar que Lula não é um democrata é nojento!
Imediatamente, porém, estabelece condições para a liberdade. "A liberdade de imprensa não significa que você possa inventar coisas o dia inteiro." (...) "Significa que você tem a liberdade de informar corretamente a opinião pública, para fazer críticas políticas, e não o que a gente assiste de vez em quando."
Sábias palavras do presidente ...
Claro: o raciocínio tem problemas sérios. Lula cumpre o seu objetivo eleitoral, sem dúvida. Mas a que preço? Ao preço de promover o engano e a discórdia.
???????????????????
O engano. Lula faz crer que liberdade existe apenas para os que informam "corretamente". Não é bem assim.
Não? Então se eu publicar aqui no blog que Eugênio Bucci desviou dinheiro quando fazia parte do governo e não provar não serei processado? Vale tudo?
E eu pensando que a função da imprensa é informar ...
A liberdade de imprensa inclui a liberdade de que veículos impressos - que não são radiodifusão e, portanto, não dependem de concessão pública - assumam uma linha editorial abertamente partidária. Qualquer órgão impresso (ou na internet) pode, se quiser, fazer oposição sistemática.
É verdade. E seria ético que os não concessionários assumissem a linha partidária e não ficassem apregoando imparcialidade.
A liberdade não foi conquistada apenas para os que "informam corretamente", mas também para os que, na opinião desse ou daquele presidente da República, não informam tão corretamente assim.
A liberdade é um direito de quem informa corretamente. E informar corretamente deveria ser uma obrigação jornalística. O missivista distorce o uso da palavra “corretamente”. Lula usou no sentido de “honestidade”, “verdade” e Bucci tenta transformar em “alinhamento”, “conveniente”.
Se um jornal quiser assumir uma postura militante, de cabo eleitoral histérico, e, mais, se quiser não declarar que faz as vezes de cabo eleitoral, o problema é desse jornal, que se arrisca a perder credibilidade. O problema é dele, só dele, não é do governo.
Bem neo liberal, não? O problema não é a panfletagem em si, mas a forma como é feita. Teoricamente, o mercado pode cuidar de empresas com conduta incompatível, só que quando parte desse modo de trabalho é minar a governabilidade, criar instabilidade política, isso passa a ser um problema de governo.
A discórdia. Alguém poderá acreditar que cabe ao Estado definir o que é "informação correta" e, com base nessa crença, poderá pedir a perseguição estatal de órgãos de imprensa.
Não é função do Estado? Acho que, constitucionalmente é.
Seria tenebroso.
Regina Duarte, sai desse corpo que não te pertence!
Não cabe ao Executivo, ao Legislativo ou ao Judiciário definir o que é "informação correta".
Ah não? Caga-se para a Constituição, para as leis? viva a anarquia!
Isso é prerrogativa do cidadão e da sociedade. Que setores da sociedade protestem contra esse ou aquele jornal faz parte da vida democrática. Às vezes, é bom. Pode ser profilático.
Tudo verdade. isso é TAMBÉM uma prerrogativa popular.
Agora, que o governo emule, patrocine ou encoraje esses movimentos é no mínimo temerário.
Aqui Bucci se revela. Está fazendo o jogo do patrão, tentando dar caráter oficial a indignação popular contra o comportamento da impren$inha. Não por coincidência, o texto foi publicado no dia do ato contra o golpismo midiático.
Enfim, é possível entender o tom furibundo do maior eleitor de Dilma. É possível, também, criticá-lo. A pessoa do presidente tem direito de se irritar com o noticiário. Tem até o direito de processar jornalistas.
No tom da oposição, morde e assopra. Escreve o que o público do jornal quer ler, critica o presidente, mas absolve Lula. Fica feio, até para quem não pleiteia cargo público, ficar ostensivamente do lado dos 4% que reprovam o governo.
Mas o chefe de Estado não deveria semear o ódio, conclamando o povo a "derrotar" órgãos de imprensa.
Mais uma distorção. O presidente falou em derrotar os órgãos que se comportam como partidos políticos.
Não que isso ameace a ordem democrática. Não exageremos. Temos ampla liberdade de expressão no Brasil.
Que estranho, o Estadão afirma o contrário. Faltou conexão aí ...
Mesmo assim, vale anotar: essas declarações presidenciais, ainda que explicáveis, são inaceitáveis.
Para você, para seu patrão, para seu público e para seus pares, meu caro!


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