quinta-feira, 9 de setembro de 2010

PT traz o livro de Amaury para o debate; Serra se encolhe e agora prefere silêncio

Por Rodrigo Vianna (@rvianna), via Escrevinhador

PSDB pode acabar feito os milicos do Riocentro - com a bomba estourando no colo
Esse blogueiro, humildemente, foi o primeiro a informar que o assessor de Comunicação de Serra, Marcio Aith, estava doido para falar com Amaury Ribeiro Jr – o jornalista que tem pronto um livro sobre as privatizações tucanas e sobre as estranhas relações de Serra com Daniel Dantas.

Escrevi sobre isso na sexta-feira, aqui.

Durante o feriado, Claudio Humberto deu destaque ao fato. E o PT se movimentou: pediu que a PF ouça Amaury. Agora, o secretário de Comunicação do PT, Andre Vargas, é mais explícito:
André Vargas vincula à proximidade entre o ex-prefeito petista de Belo Horizonte Fernando Pimentel e o ex-governador Aécio Neves (PSDB) a queda de denúncias de dossiês “no colo” do partido. Os dois eram aliados na política estadual. Em seu perfil no Twitter (@andrevargas13), o secretário petista sintetizou: “Amaury fora de controle Aécio via Pimentel plantou no colo do PT aquilo que não temos nada a ver. Antídoto contra informações comprometedoras”.

Confiram a matéria completa no Portal Terra.

Entenderam por que Serra recuou? Por que Marcio Aith procurou Amaury?

Para quem não está acompanhando o assunto (e não conseguirá acompanhar pela velha mídia, porque ela esconde essa parte da história), segue um resumo. Confiram:

1) No segundo semestre de 2009, Serra e Aécio travavam disputa pela candidatura tucana. Serra teria feito um dossiê sobre Aécio, e mandado recados, através de jornalistas amigos, sobre hábitos pouco ortodoxos do tucano mineiro. Aécio reagiu. Teria pedido ajuda do jornal “O Estado de Minas” para investigar Serra. A tarefa ficou para Amaury e outros jornalistas que trabalhavam naquela publicação.

2) Fim de 2009/Começo de 2010 – Aécio e Serra acertam um cessar-fogo. Serra sai candidato, mas deixa Aécio magoado pela forma como agiu nos bastidores. As denúncias de Amaury não são publicadas, e ele deixa o jornal.

3) Amaury teria se aproximado da campanha do PT, levando o material sobre Serra. O material não foi aceito. Amaury guardou tudo e anunciou aos amigos que escreveria um livro sobre as privatizações e as sociedades da família Serra com certos empresários. Detalhe: quem teria levado Amaury para a campanha do PT? O ex-prefeito de BH Fernando Pimentel, que é próximo de Aécio.

4) Caso vazou na velha mídia em junho de 2010, mas sem todos os detalhes sobre o início da investigação (que teria sido encomendada por Aécio).

5) No mesmo mês, Leandro Fortes publicou na “CartaCapital” reportagem reveladora, com todos os detalhes sobre o caso.

6) Agosto/2010 - desesperado com a queda nas pesquisas, Serra resolveu usar o caso, mas sem revelar a vertente mineira. Por acreditar que controla o Brasil (ele controla só algumas redações de jornais em decadência), Serra achou que poderia controlar o vazamento de informações. A velha mídia comprou a versão de Serra, e deu amplo destaque para o vazamento de informações da Receita Federal, mas sem contar como começou a investigação.

7) Feriado de 7/setembro – PT decidiu pendurar o guizo no gato, e pediu que PF ouça Amaury. Um passarinho contou a esse blogueiro que Amaury – se ouvido – vai contar a história completa, jogando a bomba de volta para o colo do tucano Aécio Neves.

8) ”O Estado de Minas” silenciou sobre o “escândalo” da Receita. Jornais serristas seguem a falar do escândalo (sem citar a vertente mineira). Mas, na internet, o cheiro de pão de queijo se espalhou, levando Serra a um silêncio obsequioso. Candidato desistiu de falar sobre o caso, e pediu para Marcio Aith procurar Amaury (Por que será? Um pedido de trégua?). Um passarinho me contou também que Amaury considera Serra e seus assessores gente não confiável. “Pensam que sou bobo, não vou falar com eles, não”.

9) Se a bomba estourar de volta pros lados de Aécio, tudo vai ficar parecido com o atentado do RioCentro, no fim da ditadura militar: milicos da linha-dura queriam matar gente no show de Primeiro de Maio, mas a bomba estourou no colo deles, literalmente, deixando a nu como operavam os serviços de informação barra-pesada da ditadura.

10) Serra, além de não ter colhido votos com o “escândalo, deve ter deixado Aécio Neves e Daniel Dantas realmente muito satisfeitos. O segundo quer ser esquecido pela mídia (e agora Serra trouxe Dantas de volta à tona). O primeiro precisa ganhar a eleição em Minas, e tudo o que não precisa agora é de bombas plantadas em seu colo.

11) Amaury deve mesmo lançar o livro sobre privatizações, mas só depois das eleições, talvez em 2011.

Por último, três ressalvas:

- não me parece leal o PT chamar Amaury de “fora do controle”; ele e certos líderes petistas sabiam bem o que estavam fazendo;

- o vazamento de dados da Receita é grave, e precisa ser investigado (sem exploração eleitoral); se houver gente do PT envolvida, que seja punida, como acontece com qualquer cidadão;

- Serra e a velha mídia devem ter aprendido agora que acabou o tempo dos “escândalos” controlados. História pela metade o povão não compra mais.

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